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terça-feira, 22 de março de 2011

Dom Delson não acredita que Câmara Municipal tenha condições de apurar denúncias feitas por Valdemar Araújo

Todas as atenções dos últimos dias estão voltadas para um discurso, de cerca de três minutos, feito por Dom Manuel Delson, bispo da Diocese do Seridó, durante a última missa dominical, na Matriz de Nossa Senhora do Rosário, em Caicó. Na oportunidade, e em determinado momento em tom incisivo, o bispo chegou a cobrar mais agilidade na apuração das denuncias feitas pelo vereador Valdemar Araújo (PR), recentemente afastado da presidência do legislativo caicoense, sobre denúncias de possíveis irregularidades na Casa.
Na entrevista exclusiva à Rádio Caicó AM, Dom Delson falou sobre a repercussão de sua fala; se estaria existindo algum tipo de represália a participação da Diocese na cobrança pela apuração das denúncias; se estaria existindo possivelmente algum interesse político do Fórum de Debate, dentre outros assuntos.
Seguem trechos da entrevista:
Marcos Dantas - O que originou seu discurso na missa do último domingo, com relação à apuração de denúncias sobre possíveis irregularidades na Câmara Municipal?Dom Delson - A denúncia foi feita a partir de um vereador, de alguém que conhece e está lá dentro. É uma denúncia muito séria, preocupa a comunidade, a sociedade e foram encaminhadas as denúncias as autoridades competentes, para averiguar e dar uma resposta à sociedade. Veio o carnaval, as coisas se acomodaram, e ninguém fala mais nisso. Então é preciso manter viva na memória da comunidade esse acontecimento muito sério. Daí a necessidade da gente retomar o tema e cobrar das autoridades, a apuração e a conclusão que a que chegar. Esperamos que isso seja feito e sabemos que os processos demoram, mas é importante que a comunidade esteja sendo informada dos passos que estão sendo dados. A minha fala foi porque alguns vereadores fizeram críticas diretamente a minha pessoa e a Igreja, tentando nos calar, e neste sentido não podemos aceitar esse tipo de pressão. Estamos numa sociedade democrática, temos direito de expressão e se eles se referiram a Igreja, eu tenho direito de defender nosso posicionamento. Se alguém tem alguma coisa contra a Igreja, que faça a denúncia, entregue as autoridades e nos investiguem. Como houve denúncia na Câmara Municipal, por parte de um vereador, com um documento com a fala de um vereador, se complicando na demonstração dos procedimentos lá de dentro, então só nos cabem pedir a apuração e foi isso que fizemos.
Essa reação por parte de alguns vereadores, o senhor entende como algum tipo de ameaça à Igreja?
Não. Eu creio que é uma prática em que alguém que se sente ameaçado por alguma coisa é reagir. Foi uma reação, não sabendo naquele momento o que dizer e fazer. Sabendo também da autoridade que é o Bispo na Diocese de Caicó, da credibilidade que a Igreja tem, eles tremeram na base, porque quando a igreja toma um posicionamento realmente é porque é uma coisa séria. Se fosse uma coisa banal, eu não iria perder tempo com isso. Mas como é algo muito sério e que diz respeito a estabilidade da vida democrática no nosso município e do mal uso dos recursos públicos, então isso nos preocupa. Eu creio que as coisas serão apuradas, não a partir de dentro da Câmara, porque lá a situação é muito complicada. Precisa que a apuração venha de fora, do Judiciário, da Polícia Federal, para que as coisas fiquem esclarecidas. Eu não tenho nada contra nenhum vereador, mas uma instituição como a Câmara Municipal não pode ter este tipo de atitude.
A própria Câmara Municipal admite que irá também fiscalizar as denúncias. O senhor acredita que essa ajuda pode ser importante?
Eu espero, se realmente há sinceridade. Agora veja, se o que Zé Maria disse é verdade, que uma boa parte dos vereadores está de certa forma comprometida, aí fica difícil que eles mesmos apurem, falhas e delitos, que eles mesmos praticaram. E nós sabemos, eu não sou mais menino, como é o procedimento nestas situações: acabar com as provas, colocar um técnico muito esperto para arrumar as coisas, dar uma forma aparentemente legal de que não existe nenhum problema, e aí já depois de tantos dias que os fatos passaram, creio que estas providências já estão sendo tomadas por parte do legislativo, e aí fazer com que as provas cheguem às autoridades competentes vai ser muito difícil.
O senhor acha que a Câmara tem como adotar um ritmo normal de trabalho, enquanto as investigações são realizadas?O normal seria que tivesse uma CPI, mas como eles vão fazer uma CPI sobre eles mesmos? Então fica muito difícil. Por isso que uma intervenção externa seria uma coisa mais plausível. E eu espero que isso esteja acontecendo, através do Judiciário e da Polícia Federal.
Qual o real papel da Diocese de Caicó neste processo?
Nós participamos como instituição da sociedade. A igreja é formada de cidadãos, eleitores, contribuintes de impostos e temos a responsabilidade de que as instituições do nosso país e município funcionem a contento, de acordo com a lei. O que a gente gostaria mesmo de esperar de uma Câmara Municipal, é que ela cumpra o seu papel. Agora, com uma denúncia como essa, a gente fica com dúvida. A gente sabe de denúncia de corrupção em todo o Brasil. Aqui e acolá se consegue fazer uma limpeza em certos municípios. E a gente teme que o mesmo esteja acontecendo aqui em Caicó, um município pobre, que não chegam muitos recursos, o povo passa dificuldade, e vê de uma hora pra outra uma denúncia, de que o dinheiro que já é pouco do município, está sendo desviado de modo assim. Isso nos chateia como cidadão e questiona a credibilidade da instituição. É verdade que não são todos os vereadores, mas quando há um grupo forte de vereadores que praticam estas coisas, os outros ficam de mãos amarradas.
Alguns alegam que, pelo fato de dentro do Fórum de Debates estarem militantes políticos e possíveis pré-candidatos a cargos no próximo ano, poderia também existir o interesse político. Como o senhor vê essa questão?
A política é uma atenção, e aqueles que estão dentro dela, tem suas propostas e projetos, e quando descobrem falhas, vão em cima. Eu creio que em tudo há um "quê" político, eu não sou ingênuo de achar que é tudo puro. Há as intenções e as ideologias. Mas o que nós perguntamos é se existe ou não esse fato da denúncia? Essa é a preocupação nossa. Porque se existe, não pode querer esconder as coisas, dizendo que é porque tem política pelo meio, porque tem partidos interessados. Existem ou não existem os fatos da denúncia? Se existem, as pessoas terão que responder.

Que denúncias o senhor se referiu, quando disse que se tiverem algo contra a Igreja ou contra o senhor, que apresentem as provas?
Eu não ouvi o discurso, porque não estava na Câmara, mas alguns vereadores acusaram a Igreja de corrupta, falaram do bispo, porque participei daquela caminhada. Eu sou cidadão, tenho direito e deveres. Se existe alguma acusação contra mim ou contra a Igreja, ou algum membro da Diocese que faça a acusação e vamos nos defender. Agora, generalizar um fato que aconteceu no passado, que aconteceu com isso e aquilo e dizer que é com toda Igreja, isso não posso aceitar. Que a Igreja tem falhas, tem. A Igreja é feita de seres humanos. O Papa Bento XVI tem pedido isso insistentemente para que as coisas sejam apuradas, e que se existem responsáveis, que respondam por isso. Seria bom que essa mesma atitude estivesse presente no Judiciário, nos municípios, nas Câmaras Municipais, que se houve faltas, que essas pessoas respondessem diante da lei.

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